A importância da merenda escolar para a saúde pública
A merenda escolar é um dos pilares da política de alimentação e nutrição no Brasil. Por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), milhões de crianças recebem, diariamente, refeições que contribuem não apenas para o rendimento escolar, mas também para o desenvolvimento físico e cognitivo.
Entretanto, em muitas redes municipais, o desafio é garantir que essas refeições sejam saudáveis, equilibradas e baseadas em alimentos in natura e minimamente processados, conforme recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira.
Os hábitos alimentares formados na infância tendem a se perpetuar ao longo da vida. Portanto, investir em uma merenda escolar de qualidade é uma das formas mais eficazes de promover saúde pública, prevenção de doenças e educação alimentar.
O problema dos ultraprocessados na alimentação escolar
Nas últimas décadas, o consumo de alimentos ultraprocessados — como biscoitos recheados, embutidos e bebidas açucaradas — aumentou significativamente entre crianças e adolescentes.
Pesquisas nacionais, como a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), indicam que mais de 70% dos adolescentes consomem regularmente produtos ultraprocessados, o que se associa ao aumento da obesidade infantil e a doenças crônicas não transmissíveis.
A introdução desses produtos na merenda escolar, mesmo que de forma ocasional, compromete a função educativa do programa e afasta o cardápio das diretrizes nutricionais nacionais.
Por isso, prefeituras e secretarias de educação têm papel decisivo na reorientação das compras, cardápios e estratégias de comunicação alimentar.
Políticas e diretrizes que priorizam alimentos frescos
O PNAE determina que pelo menos 30% dos recursos repassados pelo FNDE sejam utilizados na compra de alimentos da agricultura familiar, o que inclui frutas, legumes, verduras e outros produtos locais.
Essa política tem duplo impacto positivo: melhora a qualidade nutricional da merenda e fortalece a economia local, gerando renda e incentivando a produção sustentável.
Além disso, o Guia Alimentar para a População Brasileira (Ministério da Saúde) orienta que a base da alimentação deve ser composta por alimentos in natura ou minimamente processados, incentivando o preparo e o consumo de refeições caseiras, coloridas e diversificadas.
Como os municípios podem fortalecer a merenda com alimentos in natura
A seguir, algumas estratégias práticas e de baixo custo que podem ser aplicadas pelas secretarias municipais de educação e saúde:
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Planejamento participativo de cardápios
Envolver nutricionistas, merendeiras e representantes escolares na elaboração de cardápios que valorizem alimentos locais e sazonais.
Esse diálogo entre quem planeja, compra e prepara é essencial para viabilizar refeições equilibradas e saborosas. -
Capacitação de merendeiras e equipes de cozinha
Oferecer oficinas e treinamentos sobre técnicas de preparo, higiene e aproveitamento integral dos alimentos.
Isso reduz o desperdício e aumenta o uso criativo de frutas e hortaliças. -
Parcerias com agricultores familiares e cooperativas locais
Estimular a compra direta de produtores regionais simplifica a logística, reduz custos e garante frescor.
As secretarias podem firmar contratos com cooperativas locais, respeitando as normas do PNAE. -
Criação de hortas escolares e comunitárias
Hortas são ferramentas pedagógicas poderosas. Além de fornecer parte dos alimentos utilizados nas refeições, aproximam os alunos da origem dos alimentos, promovendo educação ambiental e nutricional. -
Campanhas educativas e envolvimento da comunidade
Promover semanas temáticas, concursos culinários e palestras com nutricionistas pode reforçar o valor da alimentação saudável e criar um ambiente positivo em torno da merenda escolar.
Exemplo inspirador: Município de São Bento do Verde (caso hipotético)
A cidade de São Bento do Verde, no interior do Brasil, implementou um programa municipal chamado “Da Horta pra Escola”, integrando agricultura familiar e educação alimentar.
Com apoio técnico da Secretaria de Agricultura, escolas municipais passaram a receber hortaliças frescas cultivadas por agricultores locais. Além disso, foram criadas oficinas de culinária escolar e ações educativas com os alunos e familiares.
Em um ano, a rede reduziu em 40% a compra de produtos industrializados e ampliou a variedade de frutas e verduras no cardápio. A satisfação das famílias e o desempenho escolar das crianças melhoraram significativamente, segundo relatórios da Secretaria de Educação.

Benefícios de longo prazo
Ao fortalecer a merenda escolar com alimentos in natura, os municípios contribuem para:
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Prevenção da obesidade infantil e de doenças crônicas;
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Melhoria do rendimento escolar e da concentração;
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Valorização da agricultura familiar e da economia local;
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Promoção de hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis;
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Redução da insegurança alimentar em comunidades vulneráveis.
Investir em alimentação escolar saudável é, portanto, investir no futuro da saúde pública municipal.
Conclusão
Transformar a merenda escolar em um instrumento de promoção da saúde é um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, uma das maiores oportunidades das administrações municipais.
Com políticas integradas, planejamento nutricional e apoio da comunidade, é possível fazer da escola um exemplo prático de alimentação saudável, sustentável e inclusiva — um legado que começa no prato e se reflete em toda a sociedade.
